sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Vida que segue

Demorei exatos 6 meses para ter a coragem de contar sobre os últimos dias do marido.

Foi horrível!

Se você puder imaginar uma luta incessante, agonizante e completamente cheia de amor e sofrimento, você chegou perto.

Ver quem a gente ama sofrendo sem fim e inimaginavelmente duro!

Matt decidiu parar o tratamento em Dezembro, dias antes do Natal. Ele teve uma última sessão de quimioterapia que o deixou na cama por 26 dias. Ele só se levantou e tomou banho para o almoço de Natal, o que levou 3 horas para ser cumprido. 3 longas horas para conseguir se levantar, tomar banho, se arrumar e descer para a ceia. Ele não viu os meninos encontrando os presentes embaixo da árvore, mas levamos tudo para o quarto para que ele pudesse ver o sorriso nos rostinhos de nossos filhos.

As coisas só pioraram depois disso.

Dois dias depois tive que levá-lo às pressas para o hospital com uma infecção que demoraram muito a diagnosticar. Com muita sorte por termos seguro de saúde aqui, ele pôde ficar em um hospital particular, o que faz toda a diferença nessas horas.

Minha irmã que estava de férias no Brasil teve que largar tudo e voar para cá, perdendo metade das férias no calorão do Brasil e voltando pro frio que ela estava fugindo no Canada, onde mora.

Foram 12 dias.

12 longos dias tentando ajudá-lo, tentando fazer com que ficasse confortável na medida do possível.. e a doença seguia progredindo... infelizmente...

3 meses se passaram e as coisas ficaram impossíveis para que eu cuidasse dele sozinha. Até o início  de Março  eu fazia tudo para ele, dava banho, levava ao banheiro, carregava escada acima, colocava e tirava da cama... dava todo o meu carinho, admiração e companheirismo... sempre com muito bom humor... Ele se tornou um filho para mim.

Até que Matt pediu que seu irmão viesse da Tailândia, onde mora, porque queria se despedir.

Nós conseguimos levá-lo para se despedir do pai, serei sempre grata a este esforço. O pai do Matt tinha Alzheimer e já não se lembrava de ninguém mas olhou para Matt e disse com um sorriso: Este é meu filho, Matthew!

Todos choraram neste momento...

Dias depois recebemos a noticia que de ele tinha apenas alguns dias de vida. Foi devastante, porque achávamos que ele teria ainda algumas semanas.

Um enfermeiro veio para passar a noite e cuidar dele para que eu pudesse dormir, como se isso fosse possível.

Na segunda feira, dia 12 de Marco, bem cedinho, eu notei que sua respiração estava diferente, ofegante e rapida. Me levantei e fui ate ele, que erguia a mão  como se estivesse tentando tocar alguma coisa. Matt perdeu a visão nos últimos dias.

Chamei seu irmão e disse que estava na hora. Ele se sentou ao lado de Matt e segurou suas mãos. eu me ajoelhei ao seu lado e o confortamos. Minha mão estava sobre seu peito magrinho, o coração acelerado, suava frio e os olhos estavam arregalados.

Ele olhou para a porta e seguiu com os olhos, acho que foi o momento que sua mãe veio busca-lo.

Uma unica lagrima caiu de seus olhos... ele sorriu... e partiu....

Seu sofrimento havia acabado... e uma paz, um alivio, um sentimento de imenso de amor tomou meu coração  .

Ele estava livre.. livre da dor.. livre da culpa por não conseguir lutar mais.. livre de todo aquele sofrimento...

Ele estava em paz... fez tudo com muita serenidade, escolheu as flores e a musica para o proprio funeral, desejou ser cremado e que suas cinzas fossem colocadas em uma igreja na cidade de Bath, junto as cinzas de sua mãe, o que fizemos três meses depois.

E esta foi a nossa jornada..

Seguimos aqui, fortes como sempre, juntos como sempre, fazendo o nosso melhor a cada dia, sabendo que ele esta melhor onde estiver do que estava aqui, e isto nos conforta...